segunda-feira, 25 de julho de 2011

Daniel - 1

FEIRA DE SANTANA

Ao chegarem à cidade, seguem as instruções do Padre Altino e localizam a casa paroquial. São recebidos com um grande banquete e festa pelo pároco, alguns ciganos e paroquianos. Altino é loiro, belo, bonachão e descendente de italianos. Ama cerveja gelada e comida bem temperada. É um homem carismático e bastante afetuoso.
Num clima bem animado e descontraído, nossos amigos, os demais presentes e padre Altino contam histórias da sua vida, casos ciganos. Uns tristes, outros alegres – todos que calam na alma dos que aqui estão.

Alta noite, estão na sala apenas o padre e os seis hospedes. Bebem cerveja e falam amenidades:
- Então, ciganos... Estou morto de curiosidade para saber o que os traz aqui?
- Uma criança – responde Antonio. – Um menino.
- Que menino?! – Pergunta Altino.
- Ele se chama Daniel – responde Zenaide – trabalha no circo como trapezista, é filho adotivo dos donos e é um cigano. É um de nós... É uma das almas mais especiais que conheço.
- O que querem com esse menino? – Questiona o padre sentindo cheiro de confusão.
- Viemos buscá-lo para voltarmos para casa – responde Shalom. – E só podemos voltar com ele. Todos juntos.
- Mas que casa? Do que vocês estão falando? Não sei se é a cerveja, mas estou confuso. Contem-me a história do começo.
Pedro narra para o padre atônito a história dos sete ciganos, a história do menino e conclui repetindo o motivo pelo qual eles estão na cidade.

Boquiaberto, o sacerdote os mira.
- Diga alguma coisa, padre – fala Sâmia.
- Sempre ouvi essa lenda... É difícil acreditar que ela seja real e... Estar diante de vocês é inacreditável também... Não sei o que pensar.
- Não lhe tiro da razão, padre – fala Sofia – mas pode confiar em nós. Junto com Daniel, seremos os Sete Ciganos e retornaremos para nossa casa. Garanto que o senhor terá a prova disso, quando nos reencontrarmos com o nosso Amado Guia.
- Mas como uma criança pode guiá-los?
- Ele é uma criança “nessa atual roupa que está usando” – diz Antonio – mas é mil anos mais velho do que todos nós juntos.
- Você o conhece, Altino? – Pergunta-lhe Zenaide.
- No grupo de ciganos com o qual trabalho, só conheço um Daniel que tem 32 anos e já é pai de família.
- E no circo? – Insiste Zenaide – Sei que tem um circo aqui. Daniel trabalha nele.
- Precisaremos investigar. Amanhã pela manhã vamos ao circo. O nome do dono é Diego, me pareceu ser gente boa, mas não me lembro de ver cigano algum trabalhando lá!... Mas... O filho dele! O trapezista mirim... Ele se chama Daniel e... Caramba! O menino parece ser cigano.
- Tenho a impressão que é ele, padre – diz Sâmia.
- Diego ama muito o menino – adverte o padre – e não sei como vai receber essa história.
- Acredito que Daniel vai saber conduzir as coisas com mestria. Ele é bom nisso – fala Shalom confiante.
- Amanhã iremos ao circo – conclui o pároco.

06/03
Após o desjejum, Diego e Daniel jogam a costumeira partida de xadrez. O homem olha para o filho adotivo amavelmente e sente um aperto no coração. Essas coisas que o menino diz sobre os ciganos que vão chegar... Isso o preocupa, e muito porque ama perdidamente o garoto:
- Por que está triste, pai?
- Eu? Triste?! To só pensativo... Não quero perder mais uma pra você, cabrón!
- E esse aperto que você está sentindo no peito é o quê?
- Como sabe!?Não posso esconder nada de você.
- Eu sinto.
Daniel estende a mão para o pai:
- Proponho um empate.
- Como?!
- Um empate...
- Você está blefando!
- Não. Se não aceitar, levará um xeque-mate em cinco jogadas.
- Não vejo como.
- Pois eu vejo.
Diego teima e prefere continuar a jogar num misto de querer reverter o destino previsto pelo menino e de querer constatar mais uma vez o poder do mesmo. O jogo segue o seu rumo e em cinco jogadas o Rei preto do pai se vê encurralado pela Rainha e pelo Cavalo Branco do filho. Diego deita o rei.
- Você é um cabra da peste! Como pode isso? Eu te ensinei a jogar...
- E eu aprimorei seu saber – Daniel segura a mão do pai e o encara de uma forma tão profunda que o constrange – Pai, eles virão aqui hoje.
Diego tira a mão bruscamente:
- Já lhe disse que não quero ouvir falar sobre essa maluquice.
- Se quer me ver feliz, se me ama de verdade, terá que deitar o Rei de novo.
- Você só sai daqui sobre o meu cadáver!

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