terça-feira, 19 de julho de 2011

Pedro - 4


Pedro sai do veículo aturdido e vai ao encontro da mulher que está chorando no chão, enquanto outras pessoas se aproximam:
- Mas você é louca, criatura?! – Esbraveja o cigano – Quer morrer, morra, mas não venha me complicar, não. Que diabo é isso?
A mulher morena chora e se maldiz:
- Ô meu Deus, nem pra morrer eu tenho sucesso.
Pedro se compadece da desgraçada. Sofia e Shalom se aproximam e o velho, se refazendo do choque, se curva para ajudá-la:
- Não chore, minha criança! Por que uma moça tão bonita se atira assim diante do carro de um cigano velho querendo morrer. O que passa na sua cabeça, menina? Se machucou muito?
Ela tem ferimentos leves nos joelhos e no braço esquerdo.
- Isso é mal de amor, cigano – fala uma senhora que se aproxima de cena para observar. – O marido largou ela da noite pro dia e ela ficou assim amalucada. Aí quis se matar, a coitada. Isso é falta de Deus!
Ignorando os julgamentos da senhora, mas ficando com a primeira parte da informação, Pedro segura a moça e pergunta-lhe:
- Pode se levantar?
- Acho que sim.
Ele a ampara e ela se ergue com a ajuda também de Shalom.
- Tragam água para ela – pede Sofia e a senhora que falava com Pedro há pouco manda um menino buscar água.
- Bom que não foi nada de grave – diz a senhora – Deus lhe deu uma chance, Olga, se você não teve sucesso nessa besteira, aproveite, minha filha, esqueça Timóteo, refaça sua vida e vá ser feliz com outro.
Olga se desespera chorando. O menino lhe traz água e ela bebe afoita.
- Me perdoe, senhor! – Ela fala com Pedro – Eu estava desesperada, não sabia o que fazer e quando vi seu carro se aproximando, só me veio a vontade de me atirar na frente pra morrer.
- Ninguém merece seu sofrimento, minha criança – diz-lhe Pedro, consolando-a. – Acho bom irmos ao hospital, tirarmos umas radiografias para vermos se está tudo bem mesmo.
- Eu não tive nada, só esses arranhões – fala Olga.
- Menina, você não cruzou em minha rota por acaso – diz Pedro. – Eu estava de viagem agora e nosso encontro foi um sinal de que eu devo mudar meus planos e te ajudar. Você se atirou na frente do meu carro procurando a morte. Eu lhe ofereço a vida e aí o que me diz?
- Não sei o que dizer.
- Então me deixe te ajudar e não conteste minhas iniciativas. É o mínimo que você pode fazer para compensar o susto que me deu.
- Aceita a ajuda dele, besta – recomenda a velha,
- Está bem, aceito.
- Menina inteligente! – Fala Pedro abraçando-a – Shalom, Sofia, sigam-me. Vamos ao hospital levar esse anjo de Bel-Karrano.
- Vemos – Shalom e Sofia concordam.
Pedro abre a porta do carro para a moça entrar. Ela o faz, se ajeita e em seguida, ele fecha a porta e dá a volta, sentando-se ao seu lado e dano a partida. Shalom e Sofia entram no outro carro e ambos vão em direção ao hospital, que fica na Avenida Luís Argolo.
- Amassei a frente do seu carro... Me diga depois quanto será o conserto que eu me viro para pagar.
- Não se preocupe com isso. Foi uma bobagem, mas me diga, por que fez aquilo?
- Meu marido me deixou.
- Por outra?
- Sim, mas sinto que ele está dominado por algum tipo de feitiço. Num dia ele era um; no outro, acordou completamente mudado, dizendo que não dava mais e que ia procurar Nide, que é a mulher da vida dele.
- Quem é Nide?
- Ela é caixa da farmácia, colega dele. A vagabunda sempre deu em cima dele e me disseram que ela estava recorrendo à magia sombria para conquistar meu Timóteo. Se ele estivesse em si e me deixasse para viver com outra, por vontade própria, eu ficaria arrasada, mas me conformaria... Só que eu sei que ele não está normal e que ela vai destruí-lo.
- O que te dá tanta certeza, Olga?
- Sou mulher, cigano, e sei.
- Eu posso te ajudar.
- Como?
- Estudei um pouco de magia.
- Como se chama?
- Pedro, às suas ordens.
Os ciganos levam a moça à emergência do hospital e enquanto ela é atendida e submetida e exames, eles conversam:
- Teremos que adiar nossa viagem, Sofia – comunica-lhe Pedro.
- Sei disso, Pedro. Estamos com você.
- Tenho que investigar o que está acontecendo para podermos ajudá-la.
- Conte conosco, Irmão.
Olga recebe alta e está bem. Os ciganos a levam para casa e ela os convida para um café. Eles se acomodam à mesa:
- Vocês têm filhos, Olga? – Questiona Sofia.
- Não, Sofia. Estávamos casados só há dois anos e planejávamos engravidar ano que vem.
- Preciso de uma roupa usada dele e uma bacia com água – anuncia Pedro intempestivamente.
- As meias que ele usou antes de ir embora continuam aqui e eu não lavei.
- Logo meias? – Brinca o cigano – Têm chulé?
O casal ri e Olga se descontrai também.
- Só para descontrair, menina, se não a vida se torna mais chata do que já é – Pedro se explica. – Pegue por favor uma meia apenas e uma bacia com água.
Olga vai fazer o que foi pedido. Pedro tira os sapatos, a volta de ouro que usa no pescoço, o relógio e os anéis:
- A água por si só já um condutor excelente. Não preciso dos metais.
Olga chega com uma meia e a bacia com água e coloca-as na mesa, em frente ao cigano:
- Quero que vocês se deem as mãos e rezem em silêncio o que vier à mente. Só pararão de orar, quando eu mandar, entendido?
- Sim – os três respondem, dão-se as mãos e iniciam suas orações.
Pedro respira fundo, segura a meia de Timóteo com a mão esquerda e sente um calafrio. Coloca a direita na água e concentra-se no líquido.
Em alguns instantes a água começa a vibrar e o cigano começa a ver...
Uma moça loira vai a um feiticeiro efeminado e cabeludo. Ela é Nide e o homem se chama Márcio e tem grande poder e comprometimento com magia trevosa. Ela lhe diz:
“Eu amo um homem e ele só tem olhos para a mulher dele. Quero conquistar esse cabra mesmo que não seja da vontade dele ficar comigo, e que ele tenha olhos só para mim. Sou louca por ele. Faço qualquer coisa para tê-lo comigo.”
“Qualquer coisa mesmo?” – Pergunta o bruxo cheio de malícia.
“Qualquer coisa!”
“Mulher corajosa, mas olha só, meu bem, cobro caro e o pagamento tem que ser adiantado. Sucesso garantido. É só me pagar, faço o feitiço e com 24 horas o bofe será seu.”
“Quanto?”
“R$ 2.000,00”
“Mais é muito...”
“É pegar ou largar.”
“Certo! Vou ver o que posso fazer e depois volto aqui.”
“Mas só volte, queridinha, com o dinheiro. Isso aqui tem nada a ver com caridade.”
“Eu sei.”
Surge outro flash em que Nide consegue uma parte do dinheiro num empréstimo bancário e outra com um agiota. Feito isso, ela retorna a Márcio:
“Aqui está o dinheiro.” – Ela passa a quantia para ele, que a conta excitado, depois beija o montante e o guarda numa gaveta:
“Gosto de gente como você. Sem nhem-nhem-nhem. Mulher decidida que vai à luta pelo que quer. Vamos agora ao que interessa.”
O feiticeiro conduz a mulher a uma sala pintada de vermelho. Há velas pretas em prateleiras, símbolos de magia, um mau-cheiro que causa náusea em Nide. Por um momento ela pensa em recuar, mas já chegara até ali. Não ia dar para trás.
“Tire a roupa, Nide. Quero você completamente nua.”
Constrangida, ela se despe e põe a roupa numa cadeira.
O mago faz uma série de invocações, depois tem um forte tremor no corpo e é possuído por uma entidade sombria. Ele sai e volta com um alguidar cheio de sangue e o bebe. Gargalha e a mulher também.
Ele sai novamente e volta com um enorme sapo nas mãos:
“Mulher, segure esse sapo com a mão direita e passe por baixo do sue ventre cinco vezes, repetindo comigo: Sapo, sapinho...”
Ela faz o que foi ordenado.
“Assim como te passo por debaixo de meu sexo, assim Timóteo não tenha sossego nem descanso enquanto para mim não se virar com todo coração, corpo, alma e vida.”
Logo após concluir essa parte do ritual, com a ajuda da entidade que estava com o mago, ela costura os olhos do sapo.
“Agora diga, Mulher... – Manda a entidade – Sapo, eu, Josenildes... Pelo poder das Trevas, cosi os teus olhos, o que devia fazer a Timóteo para que ele não sossegue nem descanse em parte alguma do mundo sem a minha companhia e ande cego para todas as mulheres. Só veja a mim e que seu pensamento só seja a meu respeito.”
Depois a Entidade pegou o sapo e deitou-o numa panela grande.
“Continue repetindo comigo, mulher... Timóteo, aqui estás preso e amarrado sem que vejas o sol ou a lua, enquanto não me amares. Daqui não te soltarei; aqui estás preso e atado como está este sapo.”
Em seguida, a entidade diz para ela:
“Mulher, em vinte e quatro horas esse homem estará lhe amando. Quando tiver a confirmação, volte aqui para descosturar os olhos do sapo e libertá-lo. Só então poderá se deitar com ele e mantê-lo como seu servo até o fim da sua vida.”
Pedro vê Timóteo deixando a casa, declarando-se a Nide. Vê depois ela indo libertar o sapo...

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