terça-feira, 19 de julho de 2011

Shalom Carín - 19

Horas depois Tânia e Romeu estão no quarto de Sofia e Shalom. Ela pede o conselho dos amigos:
- Gente, o que é que eu faço? É bom demais para ser verdade, mas tenho minha vida aqui.
- Que vida, mãe? Nós temos algumas coisas aqui, mas há muito mais vida nos esperando lá fora.
- Penso que Romeu tem razão, amiga – fala Sofia. – Sei que você está insegura de trocar o conhecido pelo desconhecido, o aparentemente certo para o aparentemente duvidoso, mas como diz Thiago de Melo, “A possibilidade de arriscar é o que nos faz vivos.”
- Eu só queria uma confirmação, um sinal, alguma coisa que me dissesse qual a probabilidade de as coisas darem certo, se eu aceitar o convite dele.
- Podemos experimentar os dados – propõe Shalom.
- Dados?! – Questiona Tânia.
- Sim. É um método de adivinhação que nós ciganos também usamos.
- Por favor...
- Oba! – Exclama Romeu – Com fé em Santa Sara, os dados vão nos mandar embora para a casa de Aristides e para o mundo!
Sofia sorri porque sabe que o rapaz tem razão.
Shalom vai até uma bagagem, pega uma caixa e convida todos à mesa. Sentam-se, ele estende um pano vermelho, coloca nele um lindo rubi, acende uma vela branca e um incenso de olíbano. Põe uma taça de cristal na mesa e pega uma garrafa que tem um papel colado escrito “Água de Chuva”. Abre a garrafa e coloca o líquido na taça, enchendo-a até a boca. Pega três dados e os envolve com as mãos, fechando-as, e bate com o pé direito três vezes no chão sussurrando uma palavra mágica
- Em nome de Bel-Karrano e Santa Sara, evoco os elementares da natureza para que me deem a visão e a força, a fim de que eu ajude meus irmãos Tânia e Romeu. Que assim seja!
- Assim seja! – Dizem os três.
- Você tem direito a três perguntas, Tânia. Por isso pense bem no que quer saber e não desperdice essa chance.
- Certo...O que nos espera se formos embora com Aristides?
O cigano se concentra com os dados nas mãos fechadas e os joga no pano vermelho:
- Seis, seis e cinco. Total, dezessete. Significa que vai haver realização nos negócios, na profissão e muita felicidade para Romeu. Para você, há a possibilidade de casamento e alegria com Aristides
- Impossível! Estou muito bem sozinha. Não quero sofrer mais por amor.
- Não generalize! As coisas agora são diferentes.
- Posso repetir a pergunta?
- Não confia nos dados?
- Não é isso... é que...
- Faça.
Ela repete a pergunta e dá o mesmo resultado.
- Ta vendo, mãe. Temos que ir!!!
- Mais alguma dúvida?
- Posso repetir mais uma vez?
- Ela ainda duvida, Sofia... Vá lá, mulher de pouca fé.
Tânia repete a pergunta:
- Seis, seis, seis. Total, dezoito. Negócios promissores e felicidade plena. Agora é com você, Tânia. O que eu podia fazer, já fiz.
- Eu confio muito em vocês, Shalom. Vou arriscar e sei que vai ser o melhor para nós. Nós vamos embora, meu filho.
Todos festejam e Romeu cobre a mãe de beijos.

Uma semana depois, à tardinha, Aristides, Tânia e Romeu estão de partida de Amargosa.
Na porta da casa que mãe e filho viveram tantos anos, estão Sofia, Shalom, Patrício, pessoas amigas de Tânia, ela, o filho e o novo amigo com algumas bagagens. Outras já estão no carro de Aristides e os pertences que serão úteis à mãe e ao filho foram na frente, numa camionete.
- Só tenho a agradecer por tudo o que vocês fizeram por nós – fala Tânia abraçando os ciganos e chorando.
- Boa sorte, Tânia! Acredite na vida – fala Shalom.
- Segue teu destino, amiga. Em qualquer esquina da vida a gente se encontra – diz Sofia.
Tânia despede-se de Patrício e agradece pela ajuda que deu na exposição do filho. Aristides saúda os ciganos e o dono do restaurante, ambos falam com os demais e entram no automóvel.
Romeu abraça Patrício:
- Muito obrigado, Patrício. Qualquer dia a gente se encontra.
- Com certeza, pintor! Brilhe aonde quer que vá.
- Certo.
Romeu se dirige a Sofia:
- Você é o meu anjo bom. Existia um Romeu antes de você entrar naquele dia, em minha casa, e olhar para mim com seus olhos de Deusa. A partir daquele instante, outro passou a existir. Você é um marco divisório em minha vida, cigana, e por isso, jamais a esquecerei... – Ele lhe entrega uma caixa embrulhada num lindo papel violeta. - Essa é uma lembrança minha para você e Shalom. Por favor, só abram quando partirem da cidade. Eu te amo!
Eles se abraçam e se emocionam.
Depois ele pára diante de Shalom:
- Eu adoraria ter um pai como você, cigano. Agradeço com toda a minha força pela sua sabedoria, pela ciência das runas e por aquele banho mágico que, com certeza, me auxiliaram nessa guinada. Aonde quer que eu vá, sempre levarei comigo a lembrança de sua força e do seu carinho. Te amo!
Eles se abraçam e soluçam de alegria e saudade. Embora saiba que vida é chegada e partida, que tudo é um constante vir a ser, sempre se apega demais aos seus afetos... Mas é assim mesmo, sua meta é encontrar os ciganos e a de Romeu, pintar e encantar o mundo.
- Deem um abraço em cada um do Bando, quando for encontrando e mostre a cada um deles, o conteúdo que está na caixa vermelha, aí dentro. E tenham certeza que jamais encontrarão um gajão tão cigano como eu.
Optcha! – Brada Shalom.
Optcha! – Repetem Sofia e Romeu.
Ele se despede dos demais, entra no veículo e Aristides dá a partida. Enquanto o carro vai se afastando, Romeu e Tânia acenam para os ciganos e Patrício que lhes retribuem até o auto dobrar a esquina e sumir das suas vistas. Deixam, por fim, a cidade para viverem um novo ciclo de suas vidas.
- Vamos tomar um vinho? – Propõe Patrício.
- Boa pedida, amigo! – Fala Shalom.
- Preciso – diz Sofia.

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