segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sofia - 11


Quinta-feira
Sofia acorda mais tarde, arruma-se e vai tomar o desjejum. Passando pela recepção, é abordada pelo atendente.
- Bom dia, dona Sofia!
- Bom dia!
- Quatro moças e um rapaz estiveram aqui ontem à sua procura.
- Deixaram nomes ou recados?
- Apenas uma, Margarida, que deixou o telefone do trabalho e pediu que a senhora ligasse para ela.
- Obrigada.
- Disponha... É... Dona Sofia...
- Sim.
- Eu trabalho até às 16h00. A senhora pode jogar para mim depois desse horário?
- Às 16h30 está bom para você?
- Está.
- Vá ao meu quarto.
- Certo! Certo!
A cigana toma o desjejum, mas se sente cansada dos trabalhos feitos à noite. Volta para o quarto e dorme novamente. Sonha com a velha cigana entregando a medalha a Joventino. Depois se vê dando ao mesmo, o talismã.
Sofia atende o recepcionista e depois resolve dar um passeio, mas é abordada por Margarida que a esperava na entrada do hotel:
- Nossa! Como sua agenda está cheia! É difícil te encontrar!
Ambas se cumprimentam carinhosamente.
- Que bom te ver, Margarida! Realmente estou cheia de compromissos, mas adorando a cidade e as pessoas que tenho tido o prazer de conhecer. Estou feliz porque vejo que você está se cuidando mais, deixando sua beleza se manifestar.
- Nunca me senti tão bem.
- Que bom!
- O Bumba-meu-boi vai se apresentar hoje no Barracão Recreativo. Quer ir?
- Claro que quero! Que horas?
- A partir das 19h00.
- Vai ser ótimo!
- Vou em casa tomar um banho e me trocar e passo aqui para te pegar.
- Combinado.
No exato momento, Orlando chega ao hotel e dirige-se ao local onde estão as duas:
- Boa tarde, Sofia! Boa tarde! – Saúda-as.
- Boa tarde, Orlando! – Conhece Margarida?
- Não.
- Orlando, esta é Margarida. Margarida, este é Orlando, filho de Dona Eulália que estava comigo ontem, quando nos falamos.
Ambos se cumprimentam com certa formalidade. Margarida se sente atraída pelo homem.
- Passei para saber como você está. Meus pais querem notícias suas e estamos te convidando para uma sopa hoje, à noite.
- Estou bem, amigo. Só que infelizmente não poderei aceitar o convite, porque combinei com Margarida agora para irmos ao Bumba-meu-boi.
- Que horas será a apresentação?
- A partir das 19h00 – responde Margarida.
- Problema resolvido: vocês jantam conosco e nós vamos ver “O Boi” depois.
- E aí, Margarida? – Questiona a cigana.
- Mas nem tomei banho ainda...
- É pegar ou largar – fala Orlando.
Ela pensa uns instantes:
- Está bem. Vamos tomar sopa e depois vamos para o Barracão.
- É bom irmos logo agora lá para casa. Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo jantaremos.
- Concordo – fala Sofia adorando a forma que o destino está conspirando para que Orlando e Margarida se aproximem e, quem sabe, despertem para o amor e curem seus infortúnios.
Na casa de Joventino e Eulália, o clima é de descontração e amizade.
Num momento, Sofia fica a sós com a dona da casa:
- E aí, foi tudo bem? - Quer saber Eulália.
- Foi.
- Qual a sua intenção ao trazer Margarida aqui?
- É o que a senhora está pensando, mas quem a convidou foi seu filho.
- Mas ela é branca. A outra também era branca. Será que vai querer meu filho, um negro? Um feirante?
- Ela é gente que nem ele, que nem eu, que nem a senhora e seu marido. É uma pessoa boa; também é sofrida como ele e ambos podem se ajudar através do amor.
- Não quero que ele se machuque de novo.
- Se ele não correr riscos, passará pela vida sem ter vivido. Devemos estar sempre prontos para recomeçar.
- Confio em você, Sofia.
- Então vamos bancar os Cupidos.
- Está bem.
Durante o jantar rolam assuntos diversos: Joventino conta piadas, Eulália dá receitas de comidas; Orlando fala de feira; Margarida relata a situação que enfrenta com o pai, que fica com um parente quando ela está fora e Sofia fala da própria história para Margarida e Orlando.
- Esse jeito bonito de ser que você tem, Sofia, atrai a admiração ou a antipatia das pessoas – fala Eulália. – A Irmã Vera, que trabalha no hospital, não lhe suportou desde que a viu pela primeira vez.
- O que fiz a ela?!
- Nada. Ela é uma infeliz e mal-amada. Ao ver você usando seus conhecimentos na enfermaria para ajudar Jove, ela sentiu uma inveja descomunal. Eu vi. Acho que ela queria ser como você.
- Esse tipo de coisa sempre ocorre comigo, aonde quer que eu chegue. Ou me amam, ou me odeiam; ou falam bem de mim; ou cobras e lagartos.
- Quem não gosta de você é porque não a conhece – diz Margarida.
- Sou uma mulher de sorte por vocês me conhecerem.
Todos riem.

Quando Orlando, Margarida e Sofia chegam ao Barracão. O Bumba-meu-boi já está acontecendo. Muita música, dança e alegria deixam a atmosfera do lugar radiante. As pessoas se divertem e se assustam com o Boi Mágico. Sofia viaja nos costumes, crendices e no folclore da cada lugar por onde passa. Contempla a cultura do povo e se irmana com cada um, até mesmo com os que não a compreendem.
Finalizada a apresentação, todos aplaudem e o grupo “Santos Reis” de Bom Jesus da Lapa, é anunciado. A vibração é geral com sua chegada e logo se faz silêncio para que a música de raiz expanda seu poder e cause os mais variados efeitos na mente e no coração de quem está presente. A cigana se emociona profundamente.
Após outras apresentações, o evento se conclui e os três vão a um bar. Sofia pede uma taça de vinho; Orlando, uma cerveja e Margarida o acompanha.
- Vamos brindar à nossa amizade – propõe Sofia.
Eles concordam e fazem o brinde.
- As apresentações foram muito lindas! – Exclama a cigana.
- Imaginei que você fosse gostar – fala Margarida.
- Você vai deixar saudades quando partir – fala Orlando.
- E vou levar também, meu querido. Mas o que importa é o agora. É este momento em que estamos juntos celebrando a vida.
- Quando vai embora? – Pergunta-lhe Margarida angustiada.
- Não sei, minha amiga. O vento sempre me avisa da hora da partida. Ele ainda não deu sinal algum.
- Tomara que você encontre seus companheiros – deseja Orlando.
- Meus companheiros são todos os que amo. Embora a meta principal da minha andança seja encontrar os seis ciganos, há um prazer muito grande em mim de estar na estrada, parar nos lugares, conhecer pessoas e me relacionar com elas.
- Que vai acontecer quando todos estiverem reunidos? – Questiona Margarida.
- Não sei – responde Sofia. – O destino dirá.

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