Segunda-feira
Sai e decide visitar a Igreja Nossa Senhora da Conceição. Como é bonita! Ajoelha-se e reza.
Levanta-se, senta-se e olha para uma moça branca e magra que chora. Sente o impulso de consolá-la e dirige-se a ela.
- Perdão, moça bonita.
- Como?!
- Posso ajudá-la?
- Não sei... Se quiser me ouvir.
- Quero.
A cigana senta ao seu lado:
- O que te aflige, Gajona?*
- A vida. Minha vida é sem graça. Sinto-me só e feia. Ninguém me quer e tenho que ficar cuidando do meu pai doente. Minha mãe é morta; meus irmãos e parentes estão no mundo, bem longe, e coube a mim o fardo. Amo meu pai, mas cada dia que passa é mais difícil lidar com o problema dele, porque sou sozinha.
- Qual é o seu nome?
- Margarida.
- Qual o problema dele?
- Alzheimer.
- Tudo passa, Margarida. A vida é como o vento.
- Como se chama?
- Sofia.
- É um prazer conhece-la – apertam-se as mãos. – Coisa esquisita! Nunca me abro com estranhos e de repente, diante do desespero, falei da minha vida com você como se nos conhecêssemos. Eu pedia um sinal a Nossa Senhora quando você me abordou.
- Senti vontade de ajudá-la quando a vi chorando.
- Que faz aqui?
- Estou de passagem. Quer ler sua sorte nas cartas?
- O que você quiser dar.
- Agora realmente estou desprevenida.
- Estou hospedada no Hotel Brejões. À tarde vou ficar por lá. Se quiser, apareça.
- Certo – Margarida se ergue. – Obrigada, pela força. Já me sinto melhor só por ter desabafado com você. Preciso ir trabalhar.
- Vá em paz. Bom dia para você e tome isso de presente.
Sofia lhe dá uma figa de arruda.
- Não posso aceitar...
- Pode sim.
Margarida aceita o presente e se vai.
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