segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sofia - 7


Saindo do hospital, Sofia compra algumas coisas e retorna para o hotel.
Lá faz alguns preparativos e ainda joga cartas para duas amigas de Margarida. Sua fama começa a se espalhar pela cidade. Na Praça da Bandeira, na Rua Góes Calmon, na Senador Galvão e na J.J. Seabra não se fala outra coisa.
Na feira, nos bares, nos mercados, nas farmácias, escolas, repartições e demais ambientes. Centenas de conjecturas são feitas acerca da cigana misteriosa que chegara naquele lugar do Recôncavo Sul.
Às 23h30, levando uma sacola, Sofia deixa o hotel e sai para a noite. Dirige-se a uma encruzilhada afastada da cidade.
Faltando cinco minutos para a meia-noite, ela chega ao destino. Tira da sacola um alguidar com uma posta de carne e farofa de azeite, três pacotes de velas, uma garrafa de cachaça, um maço de cigarros e uma caixa de fósforos.
Risca um ponto no chão e evoca a força de Exu. Põe a oferenda sobre o ponto riscado e acende em volta dela sete velas pretas, sete vermelhas e sete amarelas, formando um triângulo. Abre a garrafa e derrama um pouco de aguardente no chão. Abre o maço e acende sete cigarros, deixando-os apoiados no chão pelo filtro.
Sente uma presença forte.
- Laroiê! – Diz a cigana.
- Boa noite, Comadre!
Um vulto se forma em frente dela.
- Boa noite, Compadre!
- A que devo a honra desse encontro e desse banquete?
- Vim para negociar.
- Como é direta! Pois fale, Cigana.
- Vim porque o Senhor está atrapalhando um amigo meu.
- Ah! O Joventino...
- Ele mesmo. Vim aqui para fazer um bom negócio e pedir humildemente que se afaste dele.
- Ardilosa, você não me engana com sua modéstia.
- Não é minha intenção enganar-lhe, Senhor. Por que persegue o velho?
- Ofereceram-me uma farra para que eu o arruinasse.
- Quem?
- O barraqueiro que fica em frente a ele.
- Por quê?
- Inveja, ciúme, ódio... O homem não vende tão bem quanto seu amigo e aí quer liquidá-lo – o Compadre gargalha.
- O que ele deu ao Senhor?
Ele sussurra algumas coisas no ouvido de Sofia.
- Eu dobro.
- Negociar com a Comadre é muito bom. Além de a Comadre desejar que eu pare de perturbar o amigo, quer que eu mande o feitiço de volta?
- Não.
- Quanta generosidade!
- Não é o feirante que eu poupo. É a mim mesma.
- Tudo bem, Cigana.
- Amanhã, na virada do dia, venho fazer meu pagamento.
- Eu sou pontual.
- Eu também. Não encoste mais em Seu Joventino nem na família dele. Fechei o corpo do meu amigo, portanto é gente minha e quem ousar se meter com ele, vai estar se metendo comigo e o Senhor sabe que não aliso.
- Sei sim, Raposa.
- Diga isso também para seus amigos. Eu estou na área.
- Certo, Rainha da Noite.
- Laroiê!
Sofia se despede, saúda as quatro direções e deixa a encruzilhada de costas, mirando a Entidade a se deliciar com o néctar de sua oferenda.
Quando se vira para retornar ao hotel, ouve um ponto cantado pelo Compadre:
“Ela conhece os segredos da noite”.
Como a Lua Negra, é bela
Seu poder é de mel e de açoite
Tão misteriosa é ela.”
Ela sorri agradecida e segue o seu caminho. Sofia é íntima do “Povo da Rua”.

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