domingo, 24 de julho de 2011

Antônio - 3

 
No dia seguinte, os ciganos vão dar um passeio na cidade e visitam a Capela de Santo Amaro. Sâmia vai com Shalom e Sofia no Corsa e Pedro vai com Antonio na Saveiro azul marinho deste. Lá encontram uma senhora morena varrendo a frente:
- Que gente bonita! – Exclama a mulher cheia de simpatia – Vocês são ciganos?
- Somos, minha amiga e estamos visitando sua cidade – responde Sâmia.
- Meu nome é Elpídea, prazer – a mulher estende a mão para Sâmia, ela a cumprimenta e logo todos os ciganos já são amigos de Elpídea.
- Foi aqui que tudo começou, minha gente – fala a santamarense.
- A cidade de Santo Amaro nasceu aqui? – Pergunta Shalom.
- Sim, meu filho. E tudo por causa de uma maldição. Vou-lhes contar: lá pelos idos de 1557, às margens do rio Traripe, pertinho do mar, se estabeleceram os primeiros portugueses e fizeram suas casas, seu comércio, sua capela e tinham a água doce e a salgada como fonte de subsistência. Mas aí uma tragédia ceifou a vida de um jesuíta e o lugar ficou amaldiçoado. O pessoal saiu de lá e veio pra cá, onde construíram a nova capela em homenagem a Santo Amaro, que hoje é dedicada a Luzia.
- Que Luzia, Dona Elpídea? – Pergunta Sofia.
- A santa, minha filha. É que tenho uma intimidade tão grande com esse povo todo, que trato todo mundo assim.
Os ciganos riem.
- Aí a cidade começou a se desenvolver. Não tinha mais o azar da morte do jesuíta e as terras férteis do massapê só trouxeram vida e abundância.  A cana, o fumo e a mandioca geraram grande atividade e em 13 de março de 1837, a sede virou município e estamos aí até hoje. Essa cidade brilha e produz muitas estrelas que ganham o mundo e confirmam a excelência da terra em que nasceram. Tem Bethânia, tem Caetano, Jorge Portugal, Roberto Mendes e uma porrada de gente boa. Vão ficar pra lavagem?
- Lavagem?! - Indaga Pedro.
- A Lavagem da escadaria da igreja, homem. É a coisa mais linda de se ver! Dona Canô que organiza todos os anos. Ela vai com uma porção de baianas e tudo é muito bonito. Vocês não podem perder. Vão adorar! Têm muitas cachoeiras bonitas, igrejas maravilhosas e Dona Canô mora na Rua do Amparo. Foi lá que Caetano e Bethânia nasceram e cresceram.
- A senhora ama sua terra, não é, Dona Elpídea? – Questiona Antonio.
- Amo meu filho e é como se eu tivesse nascido aqui. Já adotei como minha e sou uma cidadã santamarense.
- A senhora nasceu onde?
- Em Maragojipe, mas vim pra cá com dois anos e daqui não saí mais. Só tem uma coisa que me entristece aqui.
- O que, minha amiga? – Quer saber Sofia.
- A sujeira do rio, menina. No passado era uma beleza, mas agora, é uma vergonha e ninguém faz nada pra mudar isso. É triste – Elpídea seca os olhos compadecida e comove os ciganos – também tem outra coisa que me entristece... Aliás, não é uma coisa; é uma pessoa, mas não quero falar disso agora.
- Dona Elpídea, nós lamentamos, mas quem sabe um dia, alguém de boa vontade mude a cara do rio e devolva sua beleza... – Cogita Shalom.
- É, meu filho, sem esperança a gente não vive... Quem sabe...
Antonio sente vontade de saber mais sobre a pessoa que é a razão da tristeza dessa mulher, mas sabe que não é a hora para mexer nisso. Acontecerá no momento certo.
A senhora fita o vazio com um olhar triste e depois sorri e sacode a cabeça para dissipar seus pensamentos sombrios.

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