terça-feira, 19 de julho de 2011

Pedro - 8

Shalom também lê o escrito.
- Do que se trata, Márcio? – Questiona Pedro – Acaso quer duelar comigo?
- É o mínimo que posso fazer depois de você ter se metido comigo e estragado meu trabalho.
- Se o fiz foi por uma questão de justiça.
- A justiça estará do lado de quem vencer hoje.
- Aceito o desafio, meu jovem, mas desde já advirto que poderá ser fatal para nós dois.
- Está com medo, velho? Se alguém tem menos chance de vencer nesse duelo não sou eu.
- Isso é o que veremos, irmão.
- Vou esperar ansioso por este momento.
Márcio se vai e Shalom ensaia sair para espancá-lo, mas é contido por Pedro:
- Não suje suas mãos, cigano. Deixe o serviço sujo para o papai aqui.
- O que você quis dizer advertindo que o duelo poderia ser fatal para ambos?
- O que você entendeu.
- Você não precisa aceitar fazer parte dessa loucura!
Pedro olha-o profundamente e sorri:
- Na minha situação, você teria coragem de recusar?
Shalom pensa um pouco e abaixa a cabeça:
- Não.
- Então fique na sua.
- Não confio nesse Márcio.
- Nem eu.
- Essa história de ele pedir que você vá sozinho... Sei não.
- Vamos pensar. Precisamos agir com cautela. O moço está me odiando e já provou ter escrúpulo nenhum. Nem por todo ouro do mundo, eu irei só. Quero você, Sofia e Gilberto comigo.
- Mas ele é só um padre. Deixe meu filho fora disso.
- Antes de ser padre é um cigano e sei que como uma coisa e outra, ele tem poder. Vou convidá-lo e a decisão será dele. Tenha certeza de que o moço aprenderá numa noite, coisas que levaria séculos para tomar conhecimento.
- Por que diz isso?
- Porque Márcio é um bruxo raro e poderoso.
- E você?
- Também.
Na mesma tarde, Nide pede demissão na farmácia e deixa a cidade. Viajando na janela do ônibus, ela chora o amor não correspondido, mas toma a experiência infeliz como lição. Jamais fará aquilo outra vez.
Márcio se reúne com duas mulheres – ambas loiras, sendo uma mais velha e outra, jovem, e um homem moreno em sua casa:
- Adriane, Suelen e Morgan. Sei que são meus únicos aliados e nessa hora difícil, é só com vocês que posso contar. Vou participar de um duelo de magia hoje, á meia-noite, no Entroncamento que vai dar na estrada para Laje. Se eu morrer, juntem suas forças e acabem com o mago que vai se bater comigo.
- Quem é ele? – Pergunta Adriane, a mais nova.
- Um cigano chamado Pedro.
- Deixe conosco, Márcio, - fala Morgan – podemos trapacear e derrubar esse cigano bem antes de ele sonhar em te derrotar.
- Não. Pedro não é um adversário qualquer. Façam o que eu digo se quiserem salvar suas peles. Só o ataquem se ele acabar comigo
- Certo – ratifica Suelen.
É noite, Pedro se reúne com Shalom, Sofia, Gilberto, Olga e Timóteo e explica o que está prestes a acontecer:
- Isso me parece arriscado! – Diz Timóteo – Podemos ir todos.
- Não, minha criança – Pedro o desencoraja e ele se frustra. – Vocês precisam se resguardar, depois do baque que sofreram. Gilberto, eu ficaria muito feliz se você fosse comigo, seu pai e Sofia.
Gilberto se sente lisonjeado:
- Eu aceito, Pedro. Vai ser um prazer acompanhá-los nessa peleja.
Pedro troca um olhar significativo com Shalom, que termina admitindo para si mesmo que estava super-protegendo o filho e acolhe a decisão deste.
- E se você não resistir, Pedro? – Pergunta Olga chorando e aflita.
- Será interessante que me enterrem.
Todos riem com o incrível senso de humor do cigano.
Ás 23h55, os ciganos chegam ao entroncamento. A escuridão predominaria não fosse por um círculo de velas negras no centro da encruzilhada. Ao longe, as luzes da cidade estão acesas. Santo Antônio dorme e nem imagina o embate apocalíptico que está prestes a acontecer. De um lado: Márcio, Adriane, Suelen e Morgan. Do outro, Pedro, Shalom, Sofia e Gilberto. Os adversários se medem.
- Quer dizer que veio de galera, Mestre Pedro – Ironiza Márcio. – Não se garante?
- Nem um pouco, irmão – responde Pedro em tom mais cínico.
- Imaginei que não viesse. Quando lhe propus o duelo, senti que havia amarelado com aquele papo idiota de “desde já advirto que poderá ser fatal para nós dois.”.
Os parceiros de Márcio riem com escárnio.
- Estou morrendo de medo de você, fedelho! – diz Pedro gozando da cara do bruxo, ofendendo-o.
- Chega de lero! Não viemos aqui para conversar. Prepare-se para morrer, cigano – ameaça irado.
Gilberto se apavora, mas ao olhar a segurança com que Pedro fita o oponente, fica mais tranquilo. Sabe que vai dar tudo certo.
- Que vença o melhor! – Diz Márcio.
- Então nenhum vencerá – Brinca Pedro.
Márcio dá as costas a Pedro e começa a se contorcer. De repente seu corpo inicia um processo misterioso de deformação, pêlos crescem, presas e garras aparecem até ele se transformar numa besta terrível.
Quando se vira para Pedro, Gilberto se arrepia de medo. Shalom e Sofia se chocam. Pedro permanece impassível. Os amigos de Márcio sentem-se triunfantes.
Pedro se concentra nos olhos da fera e seu corpo também se contorce e ele começa a passar pelo mesmo processo que o mago havia passado, até se tornar tão horrendo quanto ele. O time do bruxo se choca; não imaginava que o cigano fosse tão poderoso.
As feras se encaram e rosnam uma para outra. Márcio ameaça atacar, mas é só um blefe. Pedro faz o mesmo.
Num átimo, Márcio avança em Pedro e a luta começa. Os dois se arranham, se mordem e se golpeiam violentamente no círculo de velas. Os expectadores contemplam a cena tensos.
Márcio derruba Pedro e monta em cima dele, golpeando-o ininterruptamente a cara e tirando seu sangue. Sofia prefere não ver isso.
Pedro morde o pescoço da outra fera e a vulnerabiliza, virando o jogo e submetendo-a a sua força. Adriane teme pela morte de Márcio e faz menção de atacar a fera Pedro, mas é detida por Morgan:
- Ele disse que só podemos intervir, se sua morte acontecer.
Os dois monstros se embolam numa dança macabra e homicida que dura horas. Seus pêlos voam pela noite e os grunhidos que externam são terríveis.
Então para tristeza do time de Pedro, já perto do amanhecer, Márcio segura o pescoço dele com as garras e começa a sufocá-lo. As forças do cigano-fera vão se esvaindo com o sangue até ele desfalecer no chão e reassumir a forma humana, despido.
Márcio joga o adversário no chão e dá um pavoroso grito de vitória.
Seu time comemora e o de Pedro sente imenso pesar. Sofia e Gilberto choram a perda do amigo.
Aproveitando, porém, as últimas forças que lhe restam, Pedro segura a perna de Márcio e o derruba, parte para cima dele e crava as presas no seu coração, sugando-lhe o sangue, minando-lhe as forças e garantindo o nefasto empate.
À beira da morte, Márcio, nu, também assume a forma humana. Ambos estão cheios de feridas, escoriações, hematomas e sangram muito. Respiram com dificuldade.
Os dois grupos estão estarrecidos. A imagem dos dois feiticeiros no meio da encruzilhada, entre a vida e a morte, lhes causa insegurança e desespero:
- Que vamos fazer agora? – Pergunta Suelen.
- Ele disse que poderia ser fatal para ambos – Relembra Shalom com lágrimas nos olhos.
- Precisamos tirá-los daqui – fala Gilberto. – Daqui a pouco amanhece e os carros começam a passar. Ao verem toda essa loucura, vão chamar a polícia e será pior para todos nós.
- Precisamos levá-los a um lugar seguro! – Fala Morgan.
- É hora de unirmos forças – diz Sofia a todos – Estamos os seis atordoados e confusos com tudo isso. Devemos esquecer nossas diferenças, juntar nossos poderes e vermos o que podemos fazer por Pedro e Márcio. Concordam?
- É. Não temos escolha. Podemos levá-los à casa de Márcio e lá tomaremos as providências – propõe Adriane.
- Concordo – fala Shalom.
- Nós também – diz Suelen.

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