segunda-feira, 25 de julho de 2011

Daniel - 8 - EPÍLOGO


19/03.
Às 18h00 se encerram as atividades da Grande Tenda Mística e se inicia a grande festa de reabertura do circo em seu funcionamento normal. Dançarinas do Ventre, Engolidores de Fogo, Artistas de Rua, Artistas do circo e de outros circos, Artistas de TV, de cinema e teatro animam o ambiente.
A alegria contagia a todos e gente de todo mundo comparece ao evento. Há muitos místicos, videntes, cabalistas, ocultistas e iniciados nos mais diversos segmentos espirituais e religiosos e a troca de informações, conhecimento e afeto rola de forma solta e divertida.
O circo se transforma num centro de discussões onde todos são mestres e aprendizes. Os ciganos olham a tudo emocionados, dão entrevistas e alguns repórteres, cientes através de boatos da Lenda dos Sete Ciganos tentam arrancar algo deles a respeito, mas não obtêm sucesso.
Às 23h11, Daniel olha para cada um dos seis e faz um sinal com os olhos. Eles sabem que a hora está próxima. O menino assume o microfone e toda a atenção dos presentes é direcionada a ele:
- Boa noite, meus queridos!
- BOA NOITE! – Todos respondem.
- Que alegria estar com vocês! Estamos muito felizes da repercussão positiva que teve a Grande Tenda Mística. Tudo o que fazemos com amor cresce, multiplica e contagia as pessoas por toda a eternidade.
Chovem aplausos.
- Obrigado! Nós somos ciganos. Somos Filhos do Vento, do Trovão e das Estrelas. Nosso teto é o céu. Nossa casa é o Mundo. Nosso aquecedor, uma boa fogueira, em torno da qual cantamos, dançamos, comemos, bebemos, contamos histórias e enfim, vivemos. Somos livres. Temos nosso próprio código de ética, nossa magia, nossos mistérios e tesouros. Temos muito a ensinar e a aprender com vocês. Somos humanos como vocês. Pensamos que seja uma pena o fato de algumas pessoas se contentarem com guetos e segregações de grupos, tribos, raças, sexo, idade, condição socio-economico-cultural, opção sexual e por aí vai. Nossa mensagem é que embora cada um de nós seja uma individualidade, todos somos iguais. Viemos da mesma Fonte e para ela haveremos de retornar. Amamos vocês!
Uma salva de palmas de sete minutos chove no imenso toldo. Os ciganos se despedem carinhosamente do padre, de alguns amigos e do pessoal do circo, inclusive Diego e Rosita.
Com lágrima nos olhos Rosita abraça o filho:
-Vou sentir sua falta, meu ciganinho.
- Eu também sentirei a sua, mãe, mas estaremos sempre ligados. Obrigado por tudo.
- Amo você!
- Eu também te amo.
Os ciganos se emocionam
Daniel se dirige ao pai que o abraça e os dois explodem num choro convulso. Em seguida só se olham e Diego não verbaliza coisa alguma. Seus olhos transmitem para cada um o quanto o outro o ama. Quando a boca se cala, o corpo fala e essa é a linguagem mais sagrada.
Diego tenta falar e o filho põe carinhosamente o dedo em sua boca:
- Não precisa... Eu sei.
Dão um abraço apertado e os ciganos se vão discretamente.
Sorrateiramente Diego os segue.

Noite de Lua Cheia. Às 00h01 ocorrerá o Equinócio de Outono. A lua grávida ilumina a noite, a cidade, a mata, o pasto, os rios e mares. Ela é mãe de tudo. Os ciganos estão no meio de uma estrada, andando em direção à Constelação do Cruzeiro do Sul que está mais brilhante do que nunca: no centro está Daniel de mãos dadas com Pedro do lado esquerdo e com Zenaide à direita; esta por sua vez está de mão dada com Antonio que segura a mão de Sâmia; Pedro segura a mão de Sofia que está de mão dada com Shalom. À medida que eles caminham, vão adquirindo uma estranha luminosidade e Diego observa isso maravilhado.
No horário previsto ocorre o Equinócio e um jato de luz é projetado do Cruzeiro do Sul. Esse banho de Luz atinge os nossos amigos e num átimo, eles desaparecem e se reintegram às estrelas.

Emocionado, Diego ri e chora pelo que acabou de ver. Primeiro sente um imenso vazio que dói tanto a ponto de ele pensar que está prestes a morrer, mas o que era vácuo se preenche de um amor tão imenso e ele sorri quando constata que o verdadeiro Amor liberta, cuida e faz feliz; está acima do tempo, do espaço e de qualquer dimensão. É a Lei Maior e todos sem exceção um dia haverão de experimentá-lo plenamente e integrarão tudo o que são, o que viveram, o que vivem, e assim atingirão a totalidade e se transformarão em Pura Luz.
Diego não foi mais o mesmo depois daquele dia. Passou a ter uma vida mais tranquila, mais centrada e conciliava as coisas do circo com pesquisas sobre os ciganos e auto-conhecimento e ainda produzia um manuscrito chamado “Sete Ciganos”.
Foi justamente nessa época que o conheci, mas ele me falava pouco dos ciganos e me disse certa feita que sonhou com seu filho lhe dizendo que a história deles seria divulgada por mim. Achei o negócio meio fantasioso, mas para não ser grosseiro com meu novo amigo, preferi não me manifestar sobre isso.
Diego adoeceu, ficou acamado por um tempo, mas permaneceu lúcido até o ultimo instante. E segundo a dedicada esposa, sempre conversava com os Sete Ciganos, em contatos astrais, que lhe transmitiam paz e amor. Antes de morrer, porém, pediu a Rosita que me entregasse o manuscrito e nele e estava escrito: “Faça dele o que julgar melhor. Siga seu coração”.
Após relutar com todas as minhas forças no sentido de publicar esse material, eu mesmo tive contato com os Sete Ciganos, astralinamente, e não tive outro caminho a seguir senão esse... Foi a minha melhor escolha.

Antonio Aruanda.

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