segunda-feira, 25 de julho de 2011

Zenaide - 10


25/02.
Flávio inaugura a Mercearia Santa Sara com uma grande festa, na qual estão presentes amigos, clientes, alguns ciganos do acampamento juntamente com seus seis amigos e sua adorada Kátia.
Ela está com um lindo vestido amarelo e Flávio se sente fortemente atraído por sua pessoa. Ambos se olham insistentemente, se procuram e não conseguem se desgrudar:
- Você é um homem vitorioso, Flávio!
- Sou muito grato a você e aos meus novos amigos.
- Santa Sara e as pedras ficaram lindas ali na frente. Sinto uma força muito grande emanando dali.
- Verdade. Sinto uma força muito grande emanando do meu coração.
- Como assim?!...
- Não paro de pensar em você.
- Oh, Flávio!
Ele pega em sua mão e a beija. Ela sorri e aperta a mão dele com carinho:
- Hum! Coisa é cá. Desde que te vi lá no hospital, que você ocupa meus pensamentos e meu coração. Depois daquela viagem, então...
- O que é que a gente vai fazer com isso?
- Tenho medo!...
- Ambos já nos demos mal no amor, mas isso é passado. Vamos nos dar uma chance e uma “banana” a quem nos magoou. Acho que agora é nossa vez de sermos felizes.
Kátia morde os lábios carnudos e Flávio rouba-lhe um beijo.
Próxima a eles, sem ser vista, Zenaide os observa feliz.

No dia seguinte, os seis ciganos vão almoçar na Cabana do Pai Thomaz, uma pousada deveras aconchegante:
- Nosso tempo aqui está acabando, irmãos – diz Zenaide. – Precisamos ir embora, pegar o ciganinho e ver o que faremos da nossa vida. Vou lhes contar o que aconteceu comigo e ele no astral...
Ela narra o ultimo encontro que teve com Daniel.
- Pelo menos não perderemos tempo procurando-o. Sabemos que está no circo – pondera Antonio.
- Nosso maior problema serão os pais dele – diz Sofia. – Embora sejam circenses, não são ciganos e desconhecem nossa história e o que nos une.
- Vai ser complicado, mas aposto na doçura da criança – fala Zenaide – Ele é tão lindo e tem uma aura azul que aplaca qualquer vendaval.
- Não vejo a hora de encontrar Daniel – fala Sâmia.
- Ele nos conduzirá de volta para casa – fala Shalom.
- Ele é nosso mestre – conclui Pedro.
O vento sopra nesse momento nos cabelos, pele e alma de nossos amigos. A confirmação da partida é dada.

Zenaide convoca o acampamento e anuncia que estará partindo com os cinco na próxima semana. Embora muitos lamentem a notícia, sempre souberam que um dia isso ia acontecer. Miro se embriaga, chora e canta em homenagem à avó e propõe que façam uma grande festa, o que é aceito por todos.


03/03.
Lua cheia. A festa acontece com muita musica, dança, comida e bebida. Discursos e troças acontecem entre eles na mais completa descontração. Ciganos e gajões se irmanam. Flávio, Kátia e Ernestina se divertem muito, embora lamentem a partida dos amigos. Fazer o quê? Cada um tem seu destino.
A festa vai até o raiar do outro dia.

No meio da manhã, Zenaide liga para o Padre Altino:
- Padre, bom dia!
- Bom dia, com quem falo?
- Com Zenaide, avó de Miro, daqui de Cachoeira.
- Ah! Dona Zenaide, que prazer ouvir sua voz! Como vai meu amigo?
- Bem, obrigada.
- E os noivos?
- Depois da lua-de-mel, vieram aqui e comunicaram que iriam optar pela vida sedentária. Estão vivendo em Camaçari. Compraram uma casa lá.
- Que sejam felizes!
- É o que peço em minhas orações.
- Em que posso ajudá-la?
- Estaremos indo para Feira hoje...
- Que ótimo!
- Precisamos da sua ajuda, já que o senhor é militante da Pastoral do Nômade e penso que será de grande valia termos o senhor junto a nós na empreitada que realizaremos.
- Para início de conversa, me chame de você. Faço questão de hospedá-los em minha casa e estarei disposto a ajudá-los, mas posso saber do que se trata?
- Agradecemos pela oferta e a aceitaremos, mas só lhe contaremos o que está se passando quando chegarmos aí. A história é muito longa para falarmos por celular e eu prefiro cara a cara.
- Tudo bem, Cigana Zenaide. Estarei aguardando vocês.
- Que Bel-Karrano lhe abençoe, amigo!
Optcha!

Flávio, Kátia e Ernestina vão almoçar com Zenaide e os amigos. Após a refeição, se despedem:
- Obrigado por tudo, meus amigos – fala Flávio – e quando eu tiver o dinheiro, vou onde você estiver, Antonio, para lhe pagar.
- Eu sei, amigo. Só espero que quando você o tiver, eu já não esteja no espaço...
Todos riem.
Kátia e Ernestina abraçam todos e se demoram, cada uma no seu tempo, quando se despendem de Zenaide.
Miro pára diante da avó:
- Tem que ser assim, mesmo?
- Você sabe que sim.
- Nunca mais a verei...
- Deixe de drama, cigano. Somos eternos ou não?
- Somos.
Ela o recebe num abraço e ele chora de soluçar.
Feitas todas as despedidas, os ciganos entram nos seus respectivos veículos e Zenaide entra no do companheiro, Pedro, com quem decidiu viver mais uma paixão.
- Até um dia, minha gente! Cuidem-se bem – diz Zenaide. – Vamos, Pedro, a estrada nos espera.
Pedro dá a partida e sai na frente, seguido por Shalom e Sofia num carro e por Antonio e Sâmia no outro.
No acampamento, os amigos acenam até os carros desaparecerem na curva mais próxima.

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