domingo, 24 de julho de 2011

Zenaide - 1


CACHOEIRA

Ao longo da estrada segue Shalom e Sofia no Corsa Sedan negro, Pedro no seu Pampa branco e o novo casal, Antonio e Sâmia, na Saveiro azul marinho. A paisagem do recôncavo os embriaga com sua beleza tão simples e exótica ao mesmo tempo. Os pastos, as matas, a gente, o clima, o asfalto... Shalom, atento à estrada, pensa em Gilberto. Por onde anda seu filho amado? Lembra-se de Romeu. Quanta gente a gente deixa pra trás!... Vai passando, conhecendo e partindo... Vai levando no peito a saudade e o carinho que são tão fortes a ponto de se manterem incólumes sob a ação do tempo e da distância. Pensa nos amigos de Amargosa, Tânia, Patrício e sente o peito apertar.
- Que foi, amor? – Pergunta Sofia – Seu olhar está triste.
- Saudade. Estava pensando em Gilberto e em tantos amigos que deixamos para trás.
- Engraçado! A estrada me causa isso. Cada vez que viajo, bate uma nostalgia das pessoas queridas que ficam. Eu pensava em Margarida, Seu Jove, Dona Eulália, Orlando e Giba, nosso Gilberto. Como devem estar Tânia, Romeu e os Sr. Aristides? E Patrício, e Marcos, como estão?
- Foi muito engraçado o que fizemos com aquele canalha, o irmão de Patrício, como é mesmo o nome dele?
- Laudelino.
- Capadócio!
- O cara quase se borra de medo.
Os dois riem e seguem viagem.

Pedro também viaja no tempo e no espaço. Sente falta da mulher e da filha. Gostava de saber que suas almas perambulavam ainda pela Terra, ajudando-o a existir. Sente-se feliz por ter encontrado seus amigos ciganos, mas lamenta que isso tenha sido o motivo que levou as duas a partirem definitivamente para o outro mundo, o Mundo dos sem Corpo Físico, pois a missão de ambas era justamente assistir ao cigano até que se desse o predestinado encontro. Recorda suas aventuras, sua passagem por Santo Antonio, Olga, Timóteo, o bruxo Márcio, Adriane, Morgan e Suelen. Como estará o bruxo Márcio? Bom seria se gente não pesasse, não tivesse volume e nem ocupasse lugar no espaço, que aí eu levava todo mundo que amo comigo... Mas cada um tem sua vida, suas escolhas, sua casa. Vida besta!
Antonio pensa com carinho em Elpidea e Túlio. Sâmia pensa na adorável e sábia companhia de Mãe Lurdes. Relembra suas conversas, seus ensinamentos... Recorda seus anos em Nazaré... As pessoas que ajudou e chora emocionada. Antonio olha para a amada e compreende a causa do choro. Ele lê os sentimentos e as ideias. Põe a mão na perna dela e a alisa com carinho sem nada dizer, mas esse gesto para ela tem infinitas mensagens de companheirismo, de compreensão e cumplicidade.
O banzo se instaura em nossos amigos viajantes. Saudade do lar, saudade de tudo. Um vazio profundo toma conta de cada um e ao mesmo tempo, um alivio, porque sabem que estão juntos, porque sabem que falta pouco para se reunirem e completarem o circulo que voltará para o lugar de origem.

Próximo à cidade de Cachoeira há um acampamento cigano. Uma senhora honorável ouve a voz do vento. Fuma seu cachimbo, tira o galho de arruda atrás da orelha, sente o banzo e a alegria. Ela sorri:
- Eles estão chegando!

Nenhum comentário:

Postar um comentário