BREJÕES
Domingo
Amanhece na cidade. O vento varre o pó da estrada e o solo semi-árido e de mata cipó é banhado pelo sol nascente que brilha majestoso. Os cafezais se mostram exuberantes, ratificando a fama da “Terra do Café”.
O céu é de um azul tão intenso que chega a doer. Plantações diversas dão um colorido especial à paisagem. Bois e cavalos respiram o ar da manhã. Aves diversas cantam saudando a aurora.
Na Praça Manoel Vitorino, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, as árvores, os bancos e as casas testemunham a chegada de uma forasteira que divide a rua com os cães sem dono. Ela é bela e forte. É uma cigana. Usa vestido laranja com fitas amarelas. É morena e tem cabelos negros. Seus olhos são castanhos escuros e denotam cansaço de viagem. No pulso, usa pulseiras douradas; nos dedos, anéis. Calça sandálias de couro e leva nas costas uma mochila.
Ela pára e olha para um lado, para o outro. Localiza o Hotel Brejões e se dirige até ele. Entra na recepção e surpreende o atendente, por ser bela, por ser cigana. Ele a olha cismado, pois não confia “nessa gente”. Ela, percebendo a cisma, diz que quer um quarto por uma semana e paga adiantado.
Ele a conduz ao quarto e recebe a gorjeta.
Ela se joga na cama, exausta:
- Quando essa busca haverá de terminar, Bel-Karrano?*
Cansada da viagem, adormece e sonha: de uma constelação, emergem sete raios brilhantes que vêm em direção à Terra. Cada um toca o ventre de sete ciganas, em épocas diferentes. Sofia se vê sentada numa tenda espaçosa, diante de um círculo de velas acesas. À frente de cada uma, há um mineral; uma suave fragrância de canela perfuma o ambiente. A cigana sente a aproximação de alguém. Seus instintos lhe dizem que a pessoa é de paz. Adentra no recinto um cigano maduro, moreno e forte. Homem bonito. Ele usa uma camisa vermelha e calças pretas. Cumprimenta-a e senta-se diante da vela vermelha e de um lindo rubi. Só aí ela percebe que a vela que está em sua frente é laranja e ao lado dela há uma pepita de ouro.
Depois entra um velho cigano vestido de roxo. Tem um olhar jovial e misterioso. Ele os cumprimenta e senta-se diante da vela lilás e de uma ametista. Ela sente grande familiaridade com os dois. Não são desconhecidos; mas de onde os conhece?
Em seguida, uma cigana loira e sorridente, de formas arredondadas, surge. Ela tem seios abundantes e usa um lindo vestido rosa com fitas verdes. Saúda os presentes e senta-se diante de uma vela cor-de-rosa e um quartzo rosa.
Logo após chega um homem garboso, vestido de púrpura, coberto de ouro e certa arrogância. É boa gente, contudo. Fala cordialmente com todos e senta-se diante da vela azul clara e de uma sodalita.
Eis que surge uma velha e honorável cigana. Conserva traços de rara beleza e conhecimento. Veste um vestido índigo com fitas prateadas. Saúda os presentes e senta-se diante da vela que tem a mesma cor do vestido e de uma safira.
*Deus, em Romani.
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