segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sofia - 4

À tarde, Margarida a procura, ainda que esteja cheia de receios, e é recebida por ela em seu quarto:
- Que bons ventos a tragam, Margarida! – Acolhe-a com um abraço carinhoso – Com está?
- Melhor, mas senti necessidade de dar uma olhada nas cartas.
- Já jogou alguma vez?
- Não. É a primeira.
- Quanta honra, a minha!
- Por quê?
- Porque é muito bom fazer parte dessa sua Iniciação. Um instante que vou preparar a mesa para o jogo.
Sofia estende um pano vermelho sobre a mesa. Sobre ele, coloca uma taça de cristal com água, uma bola de cristal, incenso, uma vela vermelha e três ametistas que formam um triângulo. Por fim, coloca o monte de cartas no centro.
- Pronto, minha criança. Venha.
Margarida se senta à mesa. A cigana lhe estende as mãos, ela lhas dá e em seguida ouve a evocação da cartomante:
- Em nome de Bel-Karrano, de Santa Sara e de todos os ciganos que me acompanham, dou por aberto esse trabalho para que haja mais luz, clareza, amor e sabedoria na vida da minha irmã Margarida. Que assim seja!
Soltam-se as mãos. Sofia pega o monte das cartas e o entrega à consulente:
- Toma teu destino em tuas mãos e embaralha para que possamos desembaralhá-lo.
A moça recebe as cartas e segue a consigna, concentrada. Ao terminar o ritual, repõe o monte na mesa.
- Muito bem, Margarida. Agora corte.
Margarida corta o montante em dois.
- Junte.
Ela o faz.
- E agora, minha menina, quer fazer perguntas específicas ou que as cartas falem?
- Prefiro que elas falem primeiro e se eu sentir necessidade, farei perguntas.
- Então vamos lá. Tire três cartas de onde quiser e coloque-as na mesa, viradas para baixo.
A primeira, ela tira de baixo e põe na mesa; a segunda, do meio e a última, de cima.
A cigana desvira as cartas:
- A primeira corresponde ao seu passado; a segunda, ao presente e a última, ao seu futuro. “O Escravo” rege o seu passado. Vejo muitas privações. Pensamentos, hábitos e crenças que lhe escravizaram e lhe fizeram abdicar da sua felicidade e matar seus sonhos. Esse passado é tão forte que estende sua influência até os dias de hoje. Você tem se sacrificado por muita gente e isso tem limite ou a corda pode quebrar de tão esticada.
“E aparece a carta da ‘Derrota’ no seu presente. Vejo solidão e abandono. Doença e provavelmente morte na família e isso pode inicialmente deixa-la no fundo do poço, mas será exatamente sua libertação, pois a partir daí, você começará uma nova vida.”
“No seu futuro surge ‘A Vingança’, uma das melhores cartas do jogo. Significa triunfo e uma grande virada no seu destino que só acontecerá com sua permissão. Será a oportunidade de ouro de você enterrar todo o passado e viver feliz. Agarre-a com unhas e dentes.”
- Impressionante! Meu passado foi exatamente isso que você viu! Acho que essa morte é a do meu pai... Ô meu Deus! Mas não quero pensar nisso agora. Posso fazer algumas perguntas?
- Claro que pode. Reúna as três cartas às outras, embaralhe-as, corte-as, junte-as e aí para cada pergunta tiraremos uma carta.
Mais concentrada ainda, Margarida faz o que foi orientado:
- Que quer saber, filha?
- Tenho 19 anos e nunca namorei. Sou feia e desmazelada. Sei que não atraio ninguém, mas dentro dessa virada que eu vou dar no futuro, existe a possibilidade de um casamento?
Sofia tira uma carta e ao vê-la, sorri e a põe na mesa:
- É claro que existe. Saiu “O Sol”, menina. Alguém que vem de longe a ajudará a se aproximar de um homem bom e bonito. Ele virá formoso, com uma ferida na alma, mas vestido de sol. Ele lhe auxiliará a reconhecer sua verdadeira beleza. Vejo muita felicidade.
- Que bom, cigana! É... Com relação ao meu trabalho, eu não agüento mais aquele mercado. É uma escravidão. Tem possibilidade de melhora nesse sentido para mim?
Sofia tira a carta “A Vitória”:
- Tem sim. Vejo você tendo seu próprio negócio, junto com seu futuro marido.
- Acho isso tão distante de mim.
- Então comece a chamar para perto, pois está em seu destino.
- Tire uma para minha saúde.
Sofia tira “O Vento”.
- Vejo certa instabilidade em função de problemas emocionais que vêm se arrastando ao longo dos anos, mas não é nada preocupante, se você se tratar e acalmar os nervos, vai passar logo.
- Bom, não tenho mais nada a perguntar. Estou satisfeita.
- Quer que eu tire só mais uma que pode lhe trazer uma mensagem importante?
- Quero.
Sofia tira a carta “O Casamento”.
- Você só será feliz no amor se casar consigo mesma e se amar-se mais do que a qualquer pessoa. Aprenda a se amar e será feliz. Fará um bom casamento e terá dois filhos. Um casal.
- Que ótimo!!! Já me sinto bem melhor.
- Tenho um presente para você – Sofia se levanta, vai à bagagem e pega um frasco transparente de 60 ml. Volta à mesa e o entrega a Margarida. – É um perfume.
Ela recebe o regalo, abre-o e cheira:
- Hum! Que delícia!
- É benjoim. Ótimo para abrir os caminhos para o amor. Use-o diariamente e o aroma vai desperta-la para o amor-próprio e consequentemente você desenvolverá o poder de atrair seu homem.
- Obrigada, Sofia.
- Obrigada, Margarida.
A consulente paga à cartomante e se despedem.

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