quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sâmia - 13



Mais tarde, Gilberto está no ônibus. Ele só leva consigo uma mala com suas roupas e pertences necessários. Doou a maioria das suas coisas à comunidade e se sente bem e leve.

Gilberto chega a Nazaré à tardinha e os quatro ciganos o esperam na rodoviária. Ao ver o pai, se lança num abraço cheio de sede e saudade:
- Meu querido, que falta sinto de você! – diz Gilberto.
- Como é bom vê-lo de novo, meu filho amado! – Shalom se emociona.
Quando se separam, Gilberto dirige-se a Sofia:
- Mulher bonita, que bom estar com você de novo!
- Dê-me um abraço, Cigano do Infinito!
Ambos se abraçam e depois ele se dirige a Pedro:
- Velho peidão!
- Filho da Puta!
Abraçam-se e Pedro enche o jovem de beijos.
Gilberto olha então para Sâmia:
- E você é?...
- Sâmia. Encantada, Gilberto – os olhos da cigana brilham.
- Eu também.
Eles se abraçam e no exato momento, se desejam.
- Vamos tomar alguma coisa lá no Cristo – propõe Shalom. – Soube que a vista lá é maravilhosa.
- Boa idéia!
Os ciganos vão para o morro do Cristo e se maravilham com a vista que têm da cidade. Na base da enorme estátua, há um bar e restaurante onde eles escolhem uma mesa na lateral. Um garçom os atende e eles fazem seus pedidos.
- Como está se sentindo, filho?- Shalom pergunta a Gilberto
- Livre. Cumpri essa parte da minha missão. Agora é tempo de novos sonhos.
- Seu pai me disse que você vai fazer uma peregrinação pelo mundo – fala Sâmia.
- Verdade. Vim aqui só me despedir de vocês. Amanhã inicio minha viagem rumo a Machu Pichu.
- O que espera encontrar lá? – Pergunta-lhe Sofia.
- Nada. Só me interessa viajar e viver. O resto é lucro.
- É um autêntico cigano! – Fala Pedro soltando um flato bem sonoro no momento em que o garçom chega com duas cervejas e os copos para cada um.
- Como o clero reagiu a sua saída, meu filho?
- A maioria se indignou. Uma pequena parte me desejou sucesso.
- A igreja te deu alguma ajuda de custo?
- Não. Meu amigos de lá me ajudaram, mas a igreja em si, nada.
- É revoltante! – exclama Pedro inconformado – Você trabalhou para ela tantos anos e sai assim com a mão na frente e a outra atrás?!
- Eu não trabalhei para ela nem para o clero. Trabalhei para mim e sei que posso me dar bem e trabalhar em qualquer lugar em que eu chegue. De fome, não morro.
- Eu e Sofia temos uma reserva. Vamos ajudá-lo.
- Eu também – diz Pedro.
- Eu também – fala Sâmia, piscando para o viajante e ele sorri encantado.

À noite, em casa de Sâmia, os ciganos doam ao jovem parte de suas reservas e conversam sobre sua vida, suas histórias e aprendizagens.
Depois se despedem e se recolhem, mas Sâmia vai para o quarto do visitante e com ele, partilha dos prazeres da paixão.
Na manhã seguinte, no lugar de Gilberto, há uma rosa e um bilhete:

“Querida Sâmia,

Gostei muito do presente que nos demos. Jamais a esquecerei. Diga a meu pai que eu o amo muito e continuarei amando-o, onde quer que estejamos. Dê um beijo carinhoso em Sofia e Pedro. Não sei se nos veremos de novo, mas guardarei todos vocês em meu Espírito.

Amo vocês
Gilberto”

Ela sorri e cheira a rosa, guardando na memória as cenas vividas com aquele homem lindo, carinhoso e ardente.
Gilberto segue de carona pela estrada, numa camionete, e ela diz:
- Que Bel-Karrano te acompanhe, cigano!

Mais uns dias passam e no dia 24 de janeiro, os ciganos se despedem de Mãe Lurdes:
- Vou sentir saudades suas, Sâmia – ela diz para a amiga, emocionada. – Mas sei que é assim que tem que ser. Desde que você chegou, eu sempre soube que um dia partiria. Cumpra seu destino, minha menina!
Elas se abraçam e choram.
- Eu lhe sou muito grata por tudo o que fez por mim. Darei notícias.
- Não por muito tempo. Poupe-se querida! Em breve vocês retornarão ao ninho e todas as vezes que eu quiser matar a saudade, olharei para o céu em noite estrelada e me deliciarei com o fato de tê-los conhecido.
Despedem-se carinhosamente e eles pegam a estrada rumo a Santo Amaro.

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