terça-feira, 19 de julho de 2011

Pedro - 6


De volta à casa de Olga, Pedro narra aos amigos seu encontro com Márcio.
- Você acha que ele irá reconsiderar, Pedro?
- Sinceramente, não, Sofia. Márcio é muito orgulhoso. Terei que medir forças com ele.
Nesse ínterim, Gilberto liga para Shalom:
- Alô, pai!?
- Meu filho! Como vai você?
Shalom sai da sala onde os outros estão conversando.
- Não estou muito bem.
- Que aconteceu?
- Estou confuso. Sinto em minha alma o ímpeto de botar o pé no mundo e viver coisas novas.
- E por que não faz?
- Tenho meus compromissos com a missão que assumi. Como vou deixar as pessoas que precisam de mim, do meu apoio? O surgimento de vocês em minha vida causou-me um reboliço muito estranho. Acho que estou em crise. Onde vocês estão?
Em Santo Antônio de Jesus.
- Já acharam o terceiro cigano?
- Já. O nome dele é Pedro e é um velho curandeiro e feiticeiro muito bom. Passou muitos anos numa aldeia indígena. É um grande homem.
- Deve ser interessante! Vou me encontrar com vocês amanhã. Quero que Sofia jogue as cartas para mim. Você fala com ela?
- Falo, sim.
- Obrigado, Shalom, que Santa Sara te abençoe!
- Não tem de que, filho, que Bel-Karrano lhe acompanhe.
Instantes após, Shalom conversa com a esposa sobre o telefonema de Gilberto.
- Sinto que chegou a hora do padre virar cigano – pressente Sofia.
- E será que ele vai querer nos acompanhar?
- Não. A busca de Gilberto é diferente da nossa. Ele tem cara de que vai ser um peregrino solitário.
À noite, Pedro se reúne com Sofia, Shalom e Olga no quintal da casa desta. Estão todos sentados a uma mesa com uma toalha branca, rosas brancas, vela acesa e incenso. No centro da mesa há um imenso alguidar.
- O que vamos fazer? – Pergunta Olga assustada e curiosa.
- Vamos materializar aquele sapo e lançar um contra-feitiço.
- Por que não desmancha o que foi feito, Pedro?
- Na verdade, Olga, o que foi feito não pode ser desmanchado, mas pode ser transformado e é isso que vamos fazer. Quero que você se concentre em todo esse amor que sente por Timóteo. Quanto a vocês, Shalom e Sofia, canalizem suas forças para mim; vou precisar.
Todos se concentram:
- Em nome de Bel-Karrano e Santa Sara. Em nome de todos os Ciganos que me assistem, dou por iniciado este ritual a fim de libertar Timóteo das influências nefastas do feitiço realizado por Márcio e encomendado por Nide. Que assim seja!
- Assim seja! – Respondem os outros
- Peço que as forças da luz e das trevas se fundam em mim!
Pedro tem um tremor forte e impõe as mãos sobre o alguidar. Os três se concentram observando o cigano velho estremecer, porque está recebendo grande quantidade de energia.
Algum tempo depois, um fluído escuro começa a se formar no alguidar e à medida que fica mais consistente, vai ganhando forma e eis que surge o sapo utilizado por Márcio e Nide no feitio da magia. Olga fica boquiaberta. Shalom e Sofia contemplam a mestria do cigano.
Pedro pega o anfíbio e olha-o nos olhos:
- Boa noite, amiguinho! Lamento importuná-lo. Sei que já teve dias estressantes, mas preciso de você mais uma vez e prometo que não será mais incomodado por nenhum bruxo ou cigano maluco.
O sapo o olha assustado.
- Preciso agora do poder de vocês dois, ciganos, e da força do seu amor, Olga. Segure o sapo nas mãos, com firmeza, mas sem machucá-lo.
- Tenho pavor de sapo! – Queixa-se Olga.
- Ou segura o bichinho, ou vai ser difícil libertar seu amado.
Ela se reveste de coragem, respira fundo, releva o asco que tem do animal e o recebe nas mãos, segurando-o e sentindo o contato da sua pele fria.
- Repita comigo, Olga – ordena Pedro. – Sapo Sagrado – ela repete – Assim como te usaram levianamente para escravizar meu amado, eu peço a sua permissão para que você me ajude a libertá-lo. Se isso for do seu agrado, dê um sinal para mim.
Todos aguardam o sinal e por fim, o sapo coacha. Pedro ri:
- Ele concorda em ajudar. Continue a repetir comigo, Olga...
- Certo – ela está mais confiante e menos atemorizada.
- Coseram teus olhos para te cegarem, Timóteo – Pedro fala e Olga repete -... Mas em nome do amor, eu quero que você veja tudo e daí possa distinguir o que realmente quer.
O sapo pisca os olhos.
Na casa de Nide, enquanto ela e Timóteo estão se preparando para terem a primeira noite de amor, ele sente uma agonia nos olhos e começa a coçá-los:
- Que foi, meu bem? – Ela pergunta.
- Nada... Coceira estranha nos olhos.
- Passaram-lhe pelo sexo – continua Pedro e Olga repetindo – para aprisionar Timóteo e não deixá-lo em paz e manipularem seu corpo, sua alma, seu coração e sua vida, pois agora eu o solto para que seja livre e opte pelo que é melhor para você... Solte o sapo, Olga.
Olga o liberta, colocando-o na mesa. Ele salta para o solo, dá três pulos e depois volta para a mesa novamente e se aloja nas mãos da mulher.
Nide envolve Timóteo nos braços e ele a repele:
- Que significa isso? Que é que eu estou fazendo aqui? Nide?! Que está acontecendo?
- Timóteo, meu amor, você se declarou para mim...
- Eu me declarei?! Você só pode estar doida. Cadê Olga?
- Meu Deus! Que está acontecendo?
- Eu é que pergunto: como vim parar aqui? O que você fez? Dopou-me? Enfeitiçou-me?
- Ele voltou porque essa é a vontade de Timóteo, Olga – esclarece Pedro. – A magia está sendo bem sucedida. Vamos concluí-la. Continue dizendo comigo: Tentaram te prender, Timóteo, para manipularem tuas vontades e desejos, eu porém amo a tua liberdade e desejo que sejas livre para amar a mim ou a quem quiser, desde que estejas inteiro e feliz... Agora beije o sapo, Olga e solte-o pela porta da casa.
- Beijá-lo?!
- Pensa que só nos contos da Carochinha se beijam sapos?
- Beije, Olga! É a chance de libertar Timóteo – pede Sofia.
- Beije o sapo, Olga! – reitera Shalom.
- Feche os olhos – fala Pedro. – Pense em Timóteo... Pense em todo amor que sente por ele... Sinta esse amor e faça o que deve ser feito.
Ela beija carinhosamente o sapo, sente enorme alegria, afaga-o, vai à porta e deixa-o partir.
Timóteo veste a roupa, pega suas coisas.
- Não me deixe, meu amor! – Grita Nide desesperada – Fiz de tudo para possuí-lo. Não me deixe!
- Não sei do que você está falando, sua doida. Deixe-me em paz!
Ela fica caída no chão chorando. Ele sai, monta na moto, dá a partida e toma o caminho de casa.
- A magia foi bem sucedida, Olga – diz Pedro quando ele retorna para o quintal. – Agora Timóteo é livre para escolher entre você e Nide. Se você for a opção, daqui a pouco ele estará de volta e a partir daí, vocês terão que intensificar cada vez mais seu amor a ponto de criarem um escudo contra qualquer energia destrutiva que possa ser endereçada a vocês. Os infelizes não suportam ver alguém bem, principalmente no amor, e constantemente estão tentando contra isso, mas o amor é a maior das magias e quando ele é verdadeiro e livre de amarras, supera a qualquer investida.
- Ela pode tentar de novo?
- Pode ou não... Não sei, mas se vocês se mantiverem amando e vigilantes, nenhum feitiço irá atingi-los.
- Obrigada, Pedro! – Ela agradece com os olhos lacrimosos – Obrigada a vocês, Shalom e Sofia. Escolhi o carro certo para tentar me matar.
Eles riem.
- Preparei um suco de mangaba. Vou pegar para nós.
Ela vai à cozinha.
- Você é um grande feiticeiro e professor, Pedro! – Comenta Shalom – Em pouco tempo de convivência que tenho contigo, já aprendi tanto.
- Ainda temos muito a aprender juntos, Shalom – diz o velho cigano.
- É impressionante! – Exclama Sofia – É como se estivéssemos juntos há séculos.
- E quem disse que não estamos, minha criança?
Olga volta com o suco e os copos numa bandeja. Serve os hóspedes e ouve o barulho de uma moto se aproximando:
- É ELE!!!
Ela corre para frente da casa. Ele salta do veículo e abraça-a chorando. Ambos choram e se beijam. A senhora que ficou dando palpites depois que aconteceu o atropelamento de Olga é sua vizinha, chega nesse momento na janela vê o casal abraçado:
- Pronto! Acabou o inferno. Isso parece novela, meu Deus!
A velha se recolhe e o casal entra em casa:
- Eu estava sob uma espécie de... Não sei. Aquela Nide é maluca!
- Calma, meu bem. Eu sei. Eu sei de tudo. Temos algumas visitas especiais aqui em casa e vamos lhe contar tudo. Venha. Vamos para o quintal.
Chegando ao local mencionado, Olga apresenta Timóteo aos ciganos, ele se senta e os quatro começam a informá-lo sobre os últimos acontecimentos.

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